19 março 2009

Desconstrução #13 O discreto charme da Ilha dos Coelhinhos


Espantou-se com a estridência da campainha que inundava o espaço exíguo como uma espécie de gás tónico. O sinal estava dado. Daí em diante, estaria por sua conta. Viveria. Voaria. Viveria.

Voou. Inicialmente, começou por tentar pisar dois riscos. Passar feliz além, ficar conformado aquém. Escorregou. Nem sempre é fácil identificar a fronteira entre os efeitos de certos poderes mágicos e a normalidade do outro com que surgimos aos nós dos outros. O primeiro risco deslizou delicadamente. De vez em quando, olhava para trás e parecia lamentar: «Podia a Primavera ter sido Verão, mas as noites tomam-nos com uma tal crueldade que, por excesso, nos torna riscos. Pouco interessa a eventual coragem dos justos. Por isso, somos riscos. Talvez volte a olhar por cima do ombro, a lamentar, mas será tarde». Foi tarde.

No mundo que cada um de nós é, há um lugar bastante alto em que vemos tudo. Só aí percebemos a beleza estranha da luz natural das estrelas. Teria sido fácil. Demasiado fácil. Bastariam, afinal, dois segredos de acrílico, dois olhares de látex, duas gotas de sangue. Discreto: q.b.

Espantou-se com a exiguidade da campainha que inundava o espaço estridente como uma espécie de poeira tóxica. O sinal estava, previamente, dado. Daí para trás, estivera por sua conta. Vivera. Voaria. Sobreviveria.

Voltará a tocar tambor? Talvez. Quem sabe se alguma daquelas pessoas se cansou de esperar pelo autocarro…

Sem comentários: