30 outubro 2007

Última hora #10 Sabotagem do sistema de vigilância provoca prejuízo de milhões no Centro Comercial Central


É a notícia que marca a actualidade informativa: o sistema de vigilância da maior superfície comercial da capital, o Centro Comercial Central, foi atacado por um vírus informático, impedindo o seu funcionamento durante todo o fim-de-semana. O encerramento forçado do Centro Comercial Central provocou um prejuízo de vários milhões e lançou o caos no mercado de capitais. Hoje, ao início da manhã, a Bolsa de Valores iniciou a sua sessão inundada de ordens de venda de acções das diversas lojas que compõem o Centro Comercial Central, o que levou a que alguns títulos depreciassem a tal ponto, que já se fala em eventuais processos de falência. A Administração do Centro Comercial Central divulgou um comunicado em que apela «à serenidade» e afrma que «agora que o sistema de vigilância foi susbtituído, a situação está a regressar à normalidade.» Entretanto, o Governo já disponibilizou uma linha de financiamento a fundo perdido às lojas em risco de encerramento, de modo a assegurar os objectivos económicos do país para este ano e a evitar a liquidação de postos de trabalho.

22 outubro 2007

Aforismo imoral #12


Nas margens das cidades cinzentas há sempre uma auto-estrada sem limite de velocidade, em cujas bermas a erva não cessa de crescer.

08 outubro 2007

Última hora #9 1.º Ministro apanhado nas malhas da justiça


Segundo foi divulgado à imprensa, o 1.º Ministro foi apanhado por uma equipa da APE (Autoridade para a Preservação Económica) com os atacadores desapertados. Ao que consta, já há algum tempo que o 1.º Ministro vinha demonstrando algum desleixo com os seus atacadores. Ontem ao final da tarde, foi apanhado em flagrante, quando saía da sua residência oficial para se dirigir para uma reunião do Partido. Ainda que, inicialmente, o 1.º Ministro tenha tentado disfarçar, alegando que tinha um dos atacadores danificado e que, antes de chegar à sede do Partido, passaria por uma retrosaria para comprar uns novos, o governante acabou por confessar o seus desleixo, nos calabouços da Polícia Nacional (PN), após 4 horas e meia de interrogatório. Depois de, já de madrugada, ter saído do edifício da PN, o 1.º Ministro reuniu-se com a sua equipa de assessores, que o terá aconselhado a colocar, para já, de parte a hipótese de resignação do cargo. Hoje à tarde, o chefe do Governo fará uma comunicação ao país, onde pedirá desculpa pelo sucedido. As sondagens da próxima semana determinarão o que fazer a seguir. Tendo sido libertado sob caução, o 1.º Ministro será presente a tribunal e incorre num pena até 3 semanas de trabalho patriótico.

Desconstrução #10 Encontro com Viktor Logic



De vez em quando, passa-me pela cabeça uma lenga-lenga assim: é frequente Viktor Logic dizer assim: é frequente Viktor Logic pensar assim: é frequente Viktor Logic sonhar com pessoas que constróem escadas de papel que chegam a todo o lado. Viktor Logic, se existe não sei, mas como há um assaltante de bancos que é meu vizinho, acho que pode perfeitamente chamar-se assim. Viktor Logic é nome de assaltante de bancos.

Ele encontrou-me na rua e perguntou-me se gostaria de lhe escrever um recado num post-it cor-de-laranja. Por que não? Convidou-me para jantar e disse que logo levaria o post-it e que não me esquecesse da caneta. Ok, combinado. Às tantas horas em tal parte.

Gosto de meias de rede, por causa das marcas que deixam no meio da coxa.

A pontualidade estraga o clima. Não vale a pena evitar os saltos altos.

Jantámos num restaurante proto-chique, em tal parte, daqueles que têm uma passagem secreta por baixo de cada mesa. O post-it cor-de-laranja em branco, desafiador, por cima do guardanapo de pano. Escrevi assim:

«O maior perigo é a câmara que está colocada do lado direito de quem entra, apontada para a porta e que apanha toda a parede a partir dos 60cm. Tens que passar de gatas, à entrada e à saída. O resto é canja, sabes fazê-lo melhor que a minha melhor instrução. Privilegia as notas, não fazem barulho. Não te esqueças de verificar o estado dos bolsos. No final, desces a escada de papel a seguir ao 5.º candeeiro. Quando chegares apaga a luz. Não te demores, hoje pus as meias de rede, aquelas que deixam marcas no meio da coxa.

Beijo.

Da tua,

R.»

Acabámos de jantar e saímos pela passagem secreta da nossa mesa.

Chegou cedo. Apagou a luz.

Sub-vida #9 Entrevista com o vencedor do concurso televisivo «Cantar na Nossa Língua»



E agora, como é que vai ser a sua vida a partir de hoje?
Ainda não sei. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. Agora que o público já conhece o meu valor, quero gravar o meu disco e construir a minha carreira.

Acha que esta espécie de concursos televisivos estimula mais pessoas a ouvir e fazer música?
Sim. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. Este concurso demonstra que a TVN (Televisão Nacional) está empenhada na promoção da cultura entre a nossa juventude e o nosso povo. Se não fosse o «Cantar na Nossa Língua», nuca teria tido a hipótese de ser famoso nem de construir uma carreira de cantor.

Pensa que o facto de o concurso ter aceite apenas canções cantadas na nossa língua, o limitou de alguma maneira?
Não. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. A nossa língua é um dos traços principais da nossa cultura. Há que fazer todo o esforço para preservá-la e para combater a tendência em voga entre muitos artistas nacionais de cantar em línguas estrangeiras. A nossa cultura e a nossa identidade nacional são o que de mais importante temos.

No seu disco vai cantar canções originais ou vai continuar, como no concurso, a preferir versões de temas conhecidos?
Para já vou continuar com as versões. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. A fórmula até agora resultou e não vale a pena arriscar. Talvez um dia, quando a minha carreira já for sólida, eu pense em trabalhar canções originais.