29 maio 2007

Aforismo imoral #3


Liberdade haverá quando os aparelhos de TV adormecerem nas tardes solarengas.

Marca de baton #2

Desconstrução #1 Branco e preto



O branco é eu
Ser
+4-5,
Logo é eu
Ser
Antes de como
+4-5+CMYK


O preto é eu
Olhar
≠2,
(mesmo se 2),
Mas 1,
No oposto
Do lado contrário
Do reflexo do espelho.

28 maio 2007

Última hora #1 Cidade vandalizada


Na última noite algumas paredes brancas da capital do país foram pinchadas com frases estranhas. Não poupando, sequer, edifícios públicos e jóias do património arquitectónico nacional, como a Casa Colonial, o Mausoléu dos Heróis da Nação ou o Centro Comercial Central, os marginais escaparam à vigilância das câmaras de segurança, provocando o espanto nos milhares de transeuntes que hoje de manhã, como ocorre todos os dias úteis, encheram a cidade. Dada a gravidade do sucedido, optámos, ao contrário do que é habitual, por divulgar as frases pinchadas, mesmo aquelas mais susceptíveis de ferir a sensibilidade dos espectadores:
«A poesia morreu. Viva a poesia!»

«Uma boa constituição é um jogo de palavras cruzadas sem casa pretas.»

«Não damos o flanco, já só nos deixamos foder por caralhos a sério.»

«Não temos raça nem nação, somos da cor do cubo mágico.»

«Serpentinas para os eunucos.»

«Uma puta para cada família!»

«Greve ao tédio da greve pelo direito a sobreviver, trabalhando.»

Em conferência de imprensa, o Comandante Municipal da Polícia revelou que todos os meios estão a ser mobilizados para identificar e apanhar os meliantes e solicitou a «todos os cidadãos responsáveis que disponham de informações que possam ser úteis para esclarecer o caso, o favor de contactarem, de imediato, as autoridades.» Sua Exa. o Ministro do Interior já anunciou que fará, ao final da tarde, uma declaração ao país.

26 maio 2007

24 maio 2007

Aforismo imoral #1


No mundo livre, as estátuas terão que dançar nuas ao som do Sound System, ou então serão destruídas.

Sub-vida #1 Entrevista ao empregado do mês da McMickey’s


Como se sentiu ao saber que tinha sido escolhido empregado do mês?
Senti uma alegria imensa. Uma sensação de dever cumprido. Vale a pena o esforço que dedicamos a esta camisola, que tanto nos enche de orgulho, quando sabemos que, um dia, o reconhecimento chegará.

Como é o ambiente de trabalho na McMickey’s?
É excelente. Cada um tem a sua função e ninguém se atropela. A hierarquia funciona na perfeição: chefe manda, subordinado cumpre. No fundo, funcionamos como uma grande família. Também aí obedecemos aos mais velhos e esperamos que os mais novos nos obedeçam a nós. Aqui é igual. É simples e todos se dão bem. O trabalho é muito, mas a grandiosidade do nome desta casa faz com que se vençam todas as adversidades.

Descreva-nos o seu dia-a-dia.
Acordo todos os dias às 6h, excepto no dia da folga semanal, em que me levanto às 6h15. Deixo as crianças na escola às 7h, a esposa no emprego às 7h15 e rumo para a McMickey’s, onde chego cerca das 8h – na verdade, o meu horário de entrada é às 9h, mas prefiro evitar o stress de chegar muito em cima da hora. Trabalho até às 19h. Entre as 15h e as 16h, quando o movimento é um pouco mais fraco, tento que um colega me substitua por 5 ou 10 minutos para comer um hambúrguer. Às 20h15 chego a casa e, enquanto a minha esposa trata das crianças, vejo um pouco de televisão. Às 21h30 jantamos e, enquanto a minha esposa arruma a cozinha, vejo um pouco de televisão até adormecer. No dia da folga semanal vejo televisão, vou ao centro comercial, lavo o carro ou vou ao futebol.

Pensa vir a mudar de vida?
Para já sinto-me bem como estou. Talvez quando terminar de pagar o carro e a playstation pense em meter-me num plasma. Se isso vier acontecer, sou capaz de tentar arranjar umas horas extra no dia da folga semanal. Isto tudo, claro, se a McMickey’s não tiver, entretanto, necessidade de fazer um donwsizing.

20 maio 2007

De volta


Nos últimos dias viveram-se momentos históricos: o Cabaret Voltaire reabriu! Não em Zurique, como naqueles 5 meses do longínquo 1916, mas, desta vez, em todo o mundo. Os meios de reprodução ideológica do poder ignoraram arrogantemente tal acontecimento. Talvez por terem percebido que não suportamos mais o tédio da sobrevivência.

Agora que o holograma espectacular do capital atinge o paroxismo, não nos faltam razões para continuamos a exigir viver como pós-sobreviventes, ou seja, a exigir TUDO. Só a destruição da vida parcelada, disfarçada pela simulação agradável do vivido que colonizou a vida quotidiana, possibilitará resgatar a poesia.

Agimos em conformidade:
Provocamos o poder hierarquizado para que o VIRUS se dissemine.
Sabotamos a mercadoria para começarmos a JOGAR.
Ridicularizamos a fé para dessacralizar o REAL.
Descaracterizamos a cidade para que a RUA seja ocupada.
Debochamos da moral para libertar o AMOR.
Destruímos a arte mercantilizada para sermos HUMANOS.

Face à apreensão alienada dos saberes, mantemos com o verdadeiro e o com falso uma relação híbrida. Comecemos para já a confundi-los.

NM#NG#RM