23 fevereiro 2008

Lâmina #14 Pop us all, Debbie

Desconstrução #12 Em uníssono com J.


Lembro-me do que me disse há uns dias: há uns anos tentara matar-se. Lembrei-me há uns dias, quando me disse que há uns anos tantara matar-se, que nunca senti um desejo tão forte que me levasse a desistir de matar-me. Talvez porque, na verdade, nunca quis matar-me. Ou então porque os desejos aparecem-me e desaparecem-me e saltam-me das mãos. Sou como uma espécie de fraqueza orgânica. Faltam a pessoas como eu dois géneros de coragem: decidir não viver para viver e, tendo decidindo morrer, desistir de morrer para viver, para viver vivendo.


A espaços penso nas páginas em branco e esqueço-me do som das letras que passam e voltam.

Aforismo imoral #13


As fronteiras que separam os sobreviventes uns dos outros são apenas linhas transparentes resdesenhadas incessantemente por velhas esferográficas gastas.

Marca de baton #15

02 fevereiro 2008

Última hora #11 Funcionários de hipermercado detidos por calçarem meias amarelas


Mais de uma dúzia de funcionários do hipermercado Happymarket foram hoje detidos pela APE (Autoridade para a Preservação Económica), por, alegadamente, terem desrespeitado a nova Lei do Calçado, que proibe o uso de meias amarelas em espaços fechados. A APE tem, nos últimos dias, vindo a inspeccionar um conjunto de grandes superfícies, numa operação conjunta com o corpo de intervenção da Polícia dos Costumes, designada Operação Alfa Voador. Os inspectores da APE chegaram às instalações do Happymarket, juntamente com os agentes policiais, por volta das 9h30 e, em conferência de imprensa convocada para as 11h, apresentaram os resultados da vistoria. «Foram detidos 13 prevaricadores, que serão presentes ainda hoje a tribunal», referiu o Inspector-Chefe que conduziu as operações. O Presidente da cadeia de hipermercados veio, entretanto, a público afirmar a sua satisfação por «ter sido detido um número tão reduzido de funcionários, o que prova que os serviços de pessoal da Happymarket estão atentos e, pela sua parte, continuarão a fazer todos os esforços para assegurar que os seus funcionários cumprem com zelo as leis do Estado.» Por seu turno, o líder do STGSA (Sindicato dos Trabalhadores das Grandes Superfícies e Afins) disse que irá propor a anulação de qualquer decisão judicial que venha a prejudicar os trabalhadores detidos, na medida em que, «de acordo com a opinião de reputados juristas, esta disposição da Lei do Calçado não se aplica em espaços onde é permitida a utilização de luvas de borracha vermelhas, como é o caso dos hipermercados.»

Nos termos da referida Lei, está proibido o uso de meias amarelas em espaços fechados, a não ser que as peúgas que tenham uma lista verde 2 cm acima dos dedos e sejam da marca Footlogic. Assim, os funcionários detidos incorrem agora numa pena de prisão que pode ir até um ano.