Na última noite algumas paredes brancas da capital do país foram pinchadas com frases estranhas. Não poupando, sequer, edifícios públicos e jóias do património arquitectónico nacional, como a Casa Colonial, o Mausoléu dos Heróis da Nação ou o Centro Comercial Central, os marginais escaparam à vigilância das câmaras de segurança, provocando o espanto nos milhares de transeuntes que hoje de manhã, como ocorre todos os dias úteis, encheram a cidade. Dada a gravidade do sucedido, optámos, ao contrário do que é habitual, por divulgar as frases pinchadas, mesmo aquelas mais susceptíveis de ferir a sensibilidade dos espectadores:
«A poesia morreu. Viva a poesia!»
«Uma boa constituição é um jogo de palavras cruzadas sem casa pretas.»
«Não damos o flanco, já só nos deixamos foder por caralhos a sério.»
«Não temos raça nem nação, somos da cor do cubo mágico.»
«Serpentinas para os eunucos.»
«Uma puta para cada família!»
«Greve ao tédio da greve pelo direito a sobreviver, trabalhando.»
Em conferência de imprensa, o Comandante Municipal da Polícia revelou que todos os meios estão a ser mobilizados para identificar e apanhar os meliantes e solicitou a «todos os cidadãos responsáveis que disponham de informações que possam ser úteis para esclarecer o caso, o favor de contactarem, de imediato, as autoridades.» Sua Exa. o Ministro do Interior já anunciou que fará, ao final da tarde, uma declaração ao país.
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