31 agosto 2007
30 agosto 2007
27 agosto 2007
Desconstrução #8 Sangue, ainda amor
24 agosto 2007
Última hora #7 Presidente de multinacional cai em buraco sem fundo
22 agosto 2007
Sub-vida #7 Entrevista ao primeiro comprador mundial do mais recente espremedor de limões digital
Estes dois dias de espera à porta do hipermercado valeram a pena?
Sem dúvida. Desde que foi anunciado o lançamento do LEMON EXP DIGI 23, eu mal pude aguentar tanta ansiedade. O LEMON EXP DIGI 22 era muito bom, mas já não tinha pedalada… Para além disso, este é mais fácil de transportar e, assim, posso levá-lo para qualquer lado.
Como conseguiu aguentar aqui dois dias seguidos?
Quem corre por gosto não cansa… Tirei dois dias de férias e montei a minha tenda electrónica aqui à porta, para ser o primeiro.
Era assim tão importante para si ser o primeiro?
Como já disse, a ansiedade era muita. A minha vida começa hoje a fazer um novo sentido. Ser o primeiro dá-me a sensação de dever cumprido.
Por que razão comprou quatro equipamentos?
Um é para mim, outro é para os meus pais, outro é para oferecer à minha mulher e outro é para ficar de reserva, para o caso do primeiro se avariar.
Vai já hoje começar a utilizar o equipamento?
Assim que chegar a casa. Tenho que experimentar todas as funcionalidades, para poder tirar o máximo de proveito.
Como descreve o que sente neste momento?
Uma imensa alegria. Só me lembro de ter sentido algo semelhante quando nasceu o meu filho. Agora desculpe mas tenho que ir andando. Não vejo a hora de chegar a casa.
16 agosto 2007
Desconstrução #7 Ascensão e queda do império da alquimia
Hip. 1
Vladimiro pôs-se a jeito.
José pôs Vladimiro doente.
Niquitâncio pôs José de castigo.
Leonidas pôs Niquitâncio num asilo.
Miquelino pôs-se a milhas.
Hip. 2
A revolução levantou-se cedo e saiu para a rua. A hora de ponta fez-lhe confusão e ficou muito rabugenta. Pior ficou quando perdeu as botas ao final da manhã e teve que contentar-se com as alpercatas que trazia debaixo do braço. Almoçou bem, mas pouco. Comeu uns restos a meio da tarde, para enganar o estômago. Extenuada, sentou-se umas horas a descansar. Jantou numa pizzaria. Não chegou a regressar a casa.
Hip. 3
Para dar a volta ao mundo, a estrada de alcatrão nunca é um bom caminho. Por maior que seja, termina sempre num beco sem saída ou no imenso mar. O melhor é começar por aprender a nadar e desenhar um bom mapa de atalhos.
15 agosto 2007
Aforismo imoral #10
Sub-vida #6 Conversa entre um mestre-de-obras e um trabalhador imigrante clandestino
Mestre-de-obras – Então, procuras trabalho?
Trabalhador imigrante clandestino – Sim Sr.
M. O. – Há quanto tempo estás cá?
T. I. C. – Há 3 anos, mais ou menos.
M. O. – Tens papéis?
T. I. C. – Ainda não consegui.
M. O. – Óptimo. O que é que sabes fazer?
T. I. C. – No meu país era médico pediatra, mas como ainda não consegui legalizar-me, não…
M. O. – Certo, certo… e cá, o que é que já fizeste?
T. I. C. – Trabalhei sempre em obras, como servente de pedreiro.
M. O. – Muito bem. O trabalho que tenho para ti é numa obra numa cidade a
T. I. C. – Sim, Sr.
M. O. – Nesse caso, já sabes, amanhã tens que estar aqui às 4h30. Mais uma coisa, se, durante o período da obra, houver alguma acção de fiscalização em que te perguntem se tens papéis, ficas em silêncio como se não entendesses. Se nos perguntarem, dizemos que toda a papelada referente ao pessoal está nos escritórios da empresa na capital. Nesse momento, se não fores detido, deverás abandonar, imediatamente, a obra e ficas por tua conta. Entendido?
T. I. C. – Sim, Sr.
M. O. – Óptimo.
T. I. C. – Já agora, Sr., estou a tentar trazer a minha mulher e os meus 2 filhos para cá. Se eles chegarem, podem ficar comigo no alojamento da obra?
M. O. – Podem, mas, nesse caso, teremos que descontar mais dinheiro para o alojamento deles. Ok?
T. I. C. – Sim, Sr. Obrigado.
M. O. – Então, até amanhã.
T. I. C. – Até amanhã, Sr.
14 agosto 2007
Última hora #6 Revolta na manif
13 agosto 2007
10 agosto 2007
Desconstrução #6 Hipótese de guião para infinita-metragem
Uma enorme praça. A luz, ofuscando. O sol, crepitando. Um homem perscruta o vazio, felino. Começa a correr. Ao passar por trás de uma mulher velha, vetusta, decrépita, puxa-lhe, com assinalável destreza de movimentos, o cordão de ouro que ostenta ao pescoço. Com a força do puxão, a mulher velha, vetusta, decrépita, cai no chão, sangrando do pescoço e gritando roucamente. O homem continua a correr, até desaparecer.
Uma casa de banho baça, bolorenta. Uma mulher velha, vetusta, decrépita, enche a banheira de água. Quando a banheira se encontra cheia de água, despe-se. Olha-se no espelho, como que à procura de memórias distantes. Entra na banheira cheia de água, com um canivete na mão direita. Senta-se e recosta-se até ficar apenas com a cabeça fora da água. Corta calmamente os pulsos, primeiro o esquerdo, depois o direito. Fecha os olhos. A água ruboriza em poucos instantes.
Um quarto mudo de claridade. Um homem e uma mulher, no chão do quarto, fodem como animais enlouquecidos. Ela, de gatas, face esquerda encostada ao soalho pela mão esquerda dele que lhe pressiona a cabeça, gritando descompassadamente. Ele, por trás, metralhando furiosamente, enquanto lhe pressiona a cabeça contra o soalho com a mão esquerda e lhe bate estrepitosamente, a espaços irregulares, nas nádegas, com a mão direita. Enquanto se vem dentro dela, ele curva-se para a frente e morde-lhe com fragor o lóbulo da orelha direita. Ela grita enquanto sangra da orelha mordida. Ele deixa-se cair para o lado esquerdo, extenuado.
Um corredor estreito, implacável. Quase vazio. Escuro. O único objecto visível é uma cadeira de baloiço colocada no centro do corredor. Convictamente imóvel. Algumas gotas de sangue começam a cair do tecto sobre o assento da cadeira de baloiço. A cadeira de baloiço começa a baloiçar.