15 agosto 2007

Sub-vida #6 Conversa entre um mestre-de-obras e um trabalhador imigrante clandestino


Mestre-de-obras – Então, procuras trabalho?
Trabalhador imigrante clandestino – Sim Sr.
M. O. – Há quanto tempo estás cá?
T. I. C. – Há 3 anos, mais ou menos.
M. O. – Tens papéis?
T. I. C. – Ainda não consegui.
M. O. – Óptimo. O que é que sabes fazer?
T. I. C. – No meu país era médico pediatra, mas como ainda não consegui legalizar-me, não…
M. O. – Certo, certo… e cá, o que é que já fizeste?
T. I. C. – Trabalhei sempre em obras, como servente de pedreiro.
M. O. – Muito bem. O trabalho que tenho para ti é numa obra numa cidade a 130 KM daqui. Partiremos amanhã, às 4h30 da manhã, em transporte da empresa. A duração prevista da obra é de 6 meses. O trabalho começa todos os dias às 6h30, termina às 20h00 e interrompe das 13h00 às 14h00 para almoço. Comes e dormes na obra, no local que te será indicado. Receberás por dia de trabalho um valor, de que será informado amanhã, do qual será descontado o montante referente ao transporte, alimentação e alojamento. Aceitas?
T. I. C. – Sim, Sr.
M. O. – Nesse caso, já sabes, amanhã tens que estar aqui às 4h30. Mais uma coisa, se, durante o período da obra, houver alguma acção de fiscalização em que te perguntem se tens papéis, ficas em silêncio como se não entendesses. Se nos perguntarem, dizemos que toda a papelada referente ao pessoal está nos escritórios da empresa na capital. Nesse momento, se não fores detido, deverás abandonar, imediatamente, a obra e ficas por tua conta. Entendido?
T. I. C. – Sim, Sr.
M. O. – Óptimo.
T. I. C. – Já agora, Sr., estou a tentar trazer a minha mulher e os meus 2 filhos para cá. Se eles chegarem, podem ficar comigo no alojamento da obra?
M. O. – Podem, mas, nesse caso, teremos que descontar mais dinheiro para o alojamento deles. Ok?
T. I. C. – Sim, Sr. Obrigado.
M. O. – Então, até amanhã.
T. I. C. – Até amanhã, Sr.

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