29 dezembro 2007

Na senda do progresso e da inovação


A interrupção por umas semanas da actividade do Cabaret Volteire provocou grande agitação nos mercados de capitais e nos principais meios do aparato mediático. Assim, e procurando reassumir o papel que lhe é devido no palco principal da cultura moderna, este espaço não só vai retomar a sua produção, como vai, nos próximos tempos, sofrer algumas profundas mas progessivas alterações, quer no aspecto quer no conteúdo. A partir de agora, à semelhança da secção Lâmina, todos os textos publicados serão acompanhados por imagens produzidas por Nancy Matta-Clark, utilizando ora a técnica do desvio ora a criação de raiz. A única excepção será a secção Marca de Baton, que continuará a publicar imagens recolhidas no fabuloso mundo do ciber-espaço. Todas os textos publicados até agora terão as imagens que lhes estão associadas progressivamente substituídas por novas.

Está, igualmente, a ser objecto de exame rigoroso, por parte do colectivo do Cabaret Voltaire, a integração de nov@s autor@s na equipa e a criação de novas secções. As novidades serão, em tempo útil, divulgadas.

Mais uma vez, com estas medidas, o Cabaret Voltaire, como é seu timbre, posiciona-se na linha da frente do progresso e da inovação.

NM#NG#RM

07 novembro 2007

Desconstrução #11 When Sir Plus met Miss Treated


When Sir Plus met Miss Treated he told her:

- Survive to my command.

- Nice to meet you Sir Vive...

- Give me your living days and I'll provide you happiness in a remote control.

Dance with Miss Tycal, run to the future in a flying carpet. Flying car pet kitty kat.

Try it hard and be human. Pretend to be you man.

Keep the surface clean, smile to the camera.

- Nice to meet you Sir Veillance...

- Fear no more, culture is all around.

Life is success, survive is suck Cess.

Oh mighty good friend I am.

- Almighty good Lord you are.

30 outubro 2007

Última hora #10 Sabotagem do sistema de vigilância provoca prejuízo de milhões no Centro Comercial Central


É a notícia que marca a actualidade informativa: o sistema de vigilância da maior superfície comercial da capital, o Centro Comercial Central, foi atacado por um vírus informático, impedindo o seu funcionamento durante todo o fim-de-semana. O encerramento forçado do Centro Comercial Central provocou um prejuízo de vários milhões e lançou o caos no mercado de capitais. Hoje, ao início da manhã, a Bolsa de Valores iniciou a sua sessão inundada de ordens de venda de acções das diversas lojas que compõem o Centro Comercial Central, o que levou a que alguns títulos depreciassem a tal ponto, que já se fala em eventuais processos de falência. A Administração do Centro Comercial Central divulgou um comunicado em que apela «à serenidade» e afrma que «agora que o sistema de vigilância foi susbtituído, a situação está a regressar à normalidade.» Entretanto, o Governo já disponibilizou uma linha de financiamento a fundo perdido às lojas em risco de encerramento, de modo a assegurar os objectivos económicos do país para este ano e a evitar a liquidação de postos de trabalho.

22 outubro 2007

Aforismo imoral #12


Nas margens das cidades cinzentas há sempre uma auto-estrada sem limite de velocidade, em cujas bermas a erva não cessa de crescer.

08 outubro 2007

Última hora #9 1.º Ministro apanhado nas malhas da justiça


Segundo foi divulgado à imprensa, o 1.º Ministro foi apanhado por uma equipa da APE (Autoridade para a Preservação Económica) com os atacadores desapertados. Ao que consta, já há algum tempo que o 1.º Ministro vinha demonstrando algum desleixo com os seus atacadores. Ontem ao final da tarde, foi apanhado em flagrante, quando saía da sua residência oficial para se dirigir para uma reunião do Partido. Ainda que, inicialmente, o 1.º Ministro tenha tentado disfarçar, alegando que tinha um dos atacadores danificado e que, antes de chegar à sede do Partido, passaria por uma retrosaria para comprar uns novos, o governante acabou por confessar o seus desleixo, nos calabouços da Polícia Nacional (PN), após 4 horas e meia de interrogatório. Depois de, já de madrugada, ter saído do edifício da PN, o 1.º Ministro reuniu-se com a sua equipa de assessores, que o terá aconselhado a colocar, para já, de parte a hipótese de resignação do cargo. Hoje à tarde, o chefe do Governo fará uma comunicação ao país, onde pedirá desculpa pelo sucedido. As sondagens da próxima semana determinarão o que fazer a seguir. Tendo sido libertado sob caução, o 1.º Ministro será presente a tribunal e incorre num pena até 3 semanas de trabalho patriótico.

Desconstrução #10 Encontro com Viktor Logic



De vez em quando, passa-me pela cabeça uma lenga-lenga assim: é frequente Viktor Logic dizer assim: é frequente Viktor Logic pensar assim: é frequente Viktor Logic sonhar com pessoas que constróem escadas de papel que chegam a todo o lado. Viktor Logic, se existe não sei, mas como há um assaltante de bancos que é meu vizinho, acho que pode perfeitamente chamar-se assim. Viktor Logic é nome de assaltante de bancos.

Ele encontrou-me na rua e perguntou-me se gostaria de lhe escrever um recado num post-it cor-de-laranja. Por que não? Convidou-me para jantar e disse que logo levaria o post-it e que não me esquecesse da caneta. Ok, combinado. Às tantas horas em tal parte.

Gosto de meias de rede, por causa das marcas que deixam no meio da coxa.

A pontualidade estraga o clima. Não vale a pena evitar os saltos altos.

Jantámos num restaurante proto-chique, em tal parte, daqueles que têm uma passagem secreta por baixo de cada mesa. O post-it cor-de-laranja em branco, desafiador, por cima do guardanapo de pano. Escrevi assim:

«O maior perigo é a câmara que está colocada do lado direito de quem entra, apontada para a porta e que apanha toda a parede a partir dos 60cm. Tens que passar de gatas, à entrada e à saída. O resto é canja, sabes fazê-lo melhor que a minha melhor instrução. Privilegia as notas, não fazem barulho. Não te esqueças de verificar o estado dos bolsos. No final, desces a escada de papel a seguir ao 5.º candeeiro. Quando chegares apaga a luz. Não te demores, hoje pus as meias de rede, aquelas que deixam marcas no meio da coxa.

Beijo.

Da tua,

R.»

Acabámos de jantar e saímos pela passagem secreta da nossa mesa.

Chegou cedo. Apagou a luz.

Sub-vida #9 Entrevista com o vencedor do concurso televisivo «Cantar na Nossa Língua»



E agora, como é que vai ser a sua vida a partir de hoje?
Ainda não sei. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. Agora que o público já conhece o meu valor, quero gravar o meu disco e construir a minha carreira.

Acha que esta espécie de concursos televisivos estimula mais pessoas a ouvir e fazer música?
Sim. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. Este concurso demonstra que a TVN (Televisão Nacional) está empenhada na promoção da cultura entre a nossa juventude e o nosso povo. Se não fosse o «Cantar na Nossa Língua», nuca teria tido a hipótese de ser famoso nem de construir uma carreira de cantor.

Pensa que o facto de o concurso ter aceite apenas canções cantadas na nossa língua, o limitou de alguma maneira?
Não. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. A nossa língua é um dos traços principais da nossa cultura. Há que fazer todo o esforço para preservá-la e para combater a tendência em voga entre muitos artistas nacionais de cantar em línguas estrangeiras. A nossa cultura e a nossa identidade nacional são o que de mais importante temos.

No seu disco vai cantar canções originais ou vai continuar, como no concurso, a preferir versões de temas conhecidos?
Para já vou continuar com as versões. Sinto que trabalhei muito e penso que, embora possa parecer injusto para com os meus colegas concorrentes, mereci esta vitória. A fórmula até agora resultou e não vale a pena arriscar. Talvez um dia, quando a minha carreira já for sólida, eu pense em trabalhar canções originais.

23 setembro 2007

Teses sobre o imprevisível


1 – Toda a história é a história da construção do imprevisível.

2 – O primeiro átomo do imprevisível é a desconstrução da aparência, ou seja, a descodificação do previsível. Este é o terreno da tecla shift, do desvio-padrão, onde a força é fragilidade em acto e a massa é acidez em potência. Os estabilizadores de energia nada podem contra o curto-circuito.

3 – O real é o código binário, a linguagem-máquina a rodar em loops caleidoscópicos. A aparência é o real tornado interface intuitivo; é a simplificação complexa tornada complexidade simplificada, ou, mais simplesmente, cultura dominante.

4 – A derrota histórica dos projectos de superação do previsível acontece no preciso momento em que colocam como hipótese a transição para um novo sistema operativo programado em código fechado. O reboot, porventura imprevisível acto fundador, completa-se rapidamente, retomando o ciclo virtuoso do tédio e da violência, ou, mais simplesmente, da cultura dominante.

5 – Mais do que a invasão do palco, o princípio do fim do previsível é a destruição da plateia. O amontoado caótico das cadeiras, retira sentido ao palco; transforma-o num decadente cemitério de tribunas, ceptros e panteões. Pode, então, fechar-se a cortina de ferro e a vida verdadeiramente vivida começar.

NM#NG#RM

17 setembro 2007

16 setembro 2007

Desconstrução #9 Se ao menos…


O olhar, prudente, num ponto fixo do vidro. Os depósitos de gente a andar para trás, a surgir primeiro de frente, depois de lado, depois nada, depois outro a surgir, primeiro de frente, depois de lado, depois nada. Sempre. Os tapetes voadores, com os vidros vaporizados, vão-lhes na peugada, a espaços. As luzes, três a três, cada uma à vez, definem, uniformizam. Os traços brancos e pretos, que os traços brancos sobre o fundo preto produzem traços pretos, são o trono, o supremo poder que humilha. Se ao menos ninguém visse…

Quanto ao resto, não há enganos possíveis: as mais das vezes imaginar que se morre, entrar, trocar, deixar de se ser; uma parte das vezes que sobram desejar, entrar, trocar, parecer que se é; a outra parte das vezes que sobram sentar, fixar, trocar, imaginar que se é. Se ao menos as pilhas falhassem…

Para trás fica o andar pesaroso da estratégia sindical, feita desfile alegórico, preenchendo o baixo relevo do cimento armado, tornando-o liso, logo lógico. Se ao menos a erva não crescesse selvagem…

13 setembro 2007

Última hora #8 Hamburguers falsos apreendidos


Numa mega-operação coordenada com a Polícia de Intervenção, a Autoridade para a Preservação Económica (APE) apreendeu ontem cerca de 25.000 hamburguers contrafeitos, que seriam vendidos durante o fim de semana em diversas feiras de venda ambulante da região da capital do país. A APE desmantelou o laboratório onde era feita a confecção e deteve 7 indivíduos, cuja origem étnica não foi revelada, que controlavam a rede. Os hamburguers eram confeccionados com carne de vaca verdadeira, colocados em embalagens falsificadas da cadeia de restaurantes McMickey's e, posteriormente, vendidos e metade do preço real nas feiras. Os indivíduos detidos estão agora sujeitos a penas que vão até aos 20 anos de cadeia.

05 setembro 2007

Sub-vida #8 Discurso do Ministro da Manutenção dos Costumes na apresentação do novo Kit Vida Saudável


Sras. e Srs.

É com muita honra e satisfação que aqui apresento, em nome do Governo, o mais recente resultado de uma frutuosa parceria público-privada, que, durante a presente legislatura tem envolvido técnicos e especialistas do Ministério da Manutenção dos Costumes e de diversas empresas que, desde o início, se associaram ao projecto, mostrando que a sociedade civil está empenhada na defesa da preservação dos valores do nosso povo e da nossa nação. Trata-se, como é sabido, do Projecto Acredita e Verás, que tem procurado reflectir sobre os problemas com que a nossa juventude está hoje confrontada e apresentar propostas, criar mecanismos, em suma, agir.
No mundo globalizado em que vivemos, não são poucos os cantos de sereia que atraem a nossa juventude e que exigem de nós uma resposta firme: o consumo de drogas, álcool, tabaco e chocolate, a banalização do sexo, a relativização dos valores, a laicização da vida, a preguiça, o desprezo pela história e os símbolos nacionais e muitos outros. São estes os problemas do nosso tempo. São também os nossos desafios e pretendemos encará-los de frente.
É por isso que, com uma imensa alegria, aqui apresentamos o novo Kit Vida Saudável, que, a partir de hoje, disponibilizará aos nossos jovens compatriotas um conjunto de úteis instrumentos que, estou seguro, contribuirão para infundir nas suas consciências os valores que contam. Integram o Kit Vida Saudável, entre outros, os seguintes objectos: um aparelho de TV portátil, um hamster, um livro de cheques, um uniforme militar, uma caixa de toalhetes perfumados, um boletim de voto, um terço, duas alianças de casamento, um hambúrguer, um carro de linhas, um despertador digital, uma testa para beijar, um saco com tampas de plástico, um CD com o hino nacional, uma cegonha, um polícia de bigode, um livro branco, um muro preto, uma agenda, uma mão para receber esmolas, uma caixa de pastilhas e um horário a cumprir. Os Kits estarão disponíveis em qualquer supermercado, a partir de amanhã.
Os nossos jovens são a promessa da pátria. Ganhemos hoje o presente, para termos futuro amanhã.
Muito obrigado.